sábado, 26 de julho de 2008

Falando de Jesus






Uma das coisas que mais me chocaram quando comecei a ler os evangelhos tinha a ver com o fato de que Jesus parecia deixar muitas oportunidades de se explicar em aberto. Dava a impressão que Ele não fazia questão de explicar muito.
De fato, Ele apenas afirmava. Ou então simplesmente se retirava. Ou, quando queria tornar “mais fácil”, falava por parábolas. Nesse tempo eu lia os evangelhos “torcendo” por Jesus! Depois comecei a ler livros teológicos, alguns meses após fazer as primeiras leituras dos evangelhos — descobri que era tarefa dos teólogos e apologetas o explicarem essas coisas que nem Jesus e nem os escritores dos evangelhos se ocuparam em explicar.
Nessa época foi que descobri que para um evangélico querendo “evangelizar” alguém, melhor do que qualquer coisa, não se podendo levar a pessoa “a ser ganha” até ao culto para ouvir “a palavra de Deus”, seria dar à pessoa, como presente, um bom livro; pois, parece que será sempre melhor ler um livro que “explique bem as coisas”, do que apenas presenteá-la com os evangelhos. Sim, depois dos teólogos e dos apologetas, parece que Jesus fica mais bem explicado por outros. Sim, melhor do que por Ele mesmo.
De fato, a sensação que dá é a de que Jesus não sabia falar de Jesus. Por isto é que nós temos que ajuda-Lo a se fazer entender. Daí também vem a idéia de que a apresentação de Jesus tem hora marcada, e precisa ser feita por um profissional da apresentação pública de Jesus: o evangelista; ou, depois que este saiu de moda, pelo avivalista; e, agora, pelo showman de Jesus. Sim, porque do ponto de vista da religião Jesus não explica Jesus bem! Além disso, essa falta de explicação de Jesus acerca de muitas coisas que julgamos serem importantíssimas, acaba por justificar a existência das doutrinas da igreja.
As doutrinas é que tornam aquilo que para Jesus nem era um tema, numa questão de natureza essencial para a vida espiritual. E como Ele tratou a quase tudo que nos interessa com total descaso, deixando-nos sem saber de quase nada, e ainda dizendo que não nos competia saber ou procurar saber tempos e épocas que o Pai reservou para Sua exclusiva autoridade — surgiram os estudiosos da Escatologia; os quais, sem cometer a gafe “montanista” ou “adventista” de marcar datas (se bem que muita gente entre os evangélicos tem marcado adventistamente a data da Volta de Jesus), criam esquemas e cronogramas tão detalhados de como será até a Volta do Senhor, que se Jesus simplesmente chegar como o ladrão de noite, eles dirão: “Não deve ser Ele porque todos os sinais não se cumpriram”. Sendo que o “se cumpriram” é conforme o esquema e o cronograma deles.
Então chega a vez dos teólogos-filósofos tentarem explicar de modo sofisticadamente descrente tudo aquilo que eles nem sabem o que é, mas que não crêem; pois, a ciência não apresenta comprovação. Ou seja: eles “enchem” os vazios dos desinteresses deliberados de Jesus com afirmações de um conteúdo de descrença. Mas fica tudo cheio. Cheinho de nada. Embora os livros sejam volumosos. Enfim... Esta seqüência seria quase interminável. Porém, o resultado de tudo isto é que não se aprende apenas a crer no que está dito; e pronto. E pior: nem quando a pessoa lê e entende, ela crê que está entendendo; pois, frequentemente ela entende o oposto do que lhe é ensinado; e, como se fez dependente da “interpretação” dos profissionais de Deus, ela acaba por desistir de seu próprio entendimento, entregando-se cada vez mais a outros; permitindo, assim, que sua consciência e entendimento sejam decididos, contra o próprio entendimento original da própria pessoa, por outras consciências, cada uma com seus próprios interesses; ou, na melhor das hipóteses, com seus próprios pré-condicionamentos.
Assim, digo eu a você: Leia os evangelhos! O que você entender não tema crer e praticar. O que você não entender não tema crer assim mesmo. E se for algo para praticar, ponha em prática; pois, é na pratica da Palavra, acompanhada pela fé, que ela se auto-explica. Mateus diz que quando Jesus enfrentou a morte, muitos dos santos que dormiam no pó da terra, ressuscitaram; e, depois da ressurreição de Jesus, entraram em Jerusalém, e foram vistos por muitos. Para mim basta isto. Aliás, nem era necessário saber. Mas está dito. Eu creio. Não sei quem eram esses santos que se ergueram da morte, nem com que finalidade; e também não posso dizer o que fizeram em Jerusalém; e, menos ainda, quando partiram daqui; ou em que forma, modo ou dimensão... E mais: não tenho o direito de especular a respeito; e, menos ainda, de fabricar uma doutrina baseada nisso; assim como não me sinto com permissão para “encaixar” essa narrativa em nada, fabricando uma escatologia.
O maravilhoso, quando não há uma explicação explicitada, é apenas curtir a maravilha das escolhas de Deus, assim como alguém que se encanta diante do mais maravilhoso cenário ou criatura que na natureza se possa ver ou contemplar. É como um show de Deus! É só explodir em aplausos de adoração perplexa e grata! Desse modo, os antigos estavam certos quando indagados de coisas que não sabiam explicar, e, desse modo, apenas respondiam dizendo: “É maravilha do Senhor! É maravilha do Senhor, irmão!” Para mim essa ainda é a melhor resposta! E mais: Deus fala de Si mesmo, e Jesus também, usando todas as linguagens; dos Cosmos à Palavra; da alegria à dor; dos ganhos às perdas; no nascimento e na morte; no encontro e no desencontro -- enfim, de todas as formas; segundo a Ordem de Melquizedeque.
Nele, que faz como quer; e sábio é quem se alegra nisso,

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