sexta-feira, 13 de março de 2009

Muito mais que uma religião

“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”.
(2 TIMÓTEO, 4:7)

Num contexto de intensa efervescência religiosa, como se vê no Brasil e em boa parte do mundo globalizado, percebe-se em muitas instituições religiosas uma nova geração de fiéis buscado na força da instituição uma religiosidade que propicie maior realização espiritual. Assim, surge o que poderíamos chamar de “um novo modelo de cristianismo” adaptado aos anseios dos fiéis. Os ministérios, departamentos, pastorais, células, grupos familiares, encontros, projetos e programas diversos, têm sido uma tentativa de muitas denominações religiosas na busca de um maior envolvimento da comunidade da fé.

A experiência religiosa dos cristãos primitivos indica um grande contraste quando colocada ao lado do fenômeno religioso tão estudado nos últimos dias. Vivendo um cristianismo ainda não “domesticado”, não institucionalizado, a comunidade da fé, movida por uma experiência viva de conversão, se estabelecia numa religiosidade profundamente marcada pelo efetivo serviço espontâneo de uma fé relacional, contrastada ao rigor institucional da cultura religiosa judaica.

O apóstolo Paulo, que conheceu bem os dois lados dessa moeda, foi capaz de diferenciar uma fé centrada na força da tradição, daquela que fosse capaz de atender aos anseios mais profundos de sua alma. Foi a partir de um maravilhoso encontro com o Senhor Jesus que obteve o descortinar de uma revelação que todo o seu conhecimento acadêmico não havia sido capaz de propiciar. Foi nesse sentido que chegou a dizer: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo”. (FILIPENSES, 3:7-8).

Embora tenha sido necessário o surgimento da instituição religiosa como elemento norteador e organizador das forças que permeiam a experiência da fé, têm-se verificado alguns rumores de insatisfação, tanto em meio aos fieis mais simples e sinceros, quanto nos bastidores dos “quartéis generais” de algumas instituições. Em especial, poderemos citar o cristianismo como objeto e palco dos citados rumores, uma vez que tem sido quase que inevitável não percebermos uma certa tensão circulando em muitos arraiais da cristandade.

Talvez tenha chagado o inevitável momento de se repensar o papel fundamental da verdadeira “religião”. É preciso ficar bem claro que, cada fiel ao encontrar-se genuinamente com esta verdadeira fé firmada na pedra fundamental que é Cristo, tornou-se devedor, não a uma mera força institucional, mas foi inserido na grande comissão onde a obediência ao serviço religioso é transferida do sentido horizontal para o vertical que é Cristo o Senhor.

Um cristianismo vivo é muito mais que uma religião. Nesse sentido, cabe a cada um que já tenha experimentado o Cristo ressuscitado descobrir a serviço de quem tem investido sua vida e energias. Tal descoberta poderá levar a uma sensação de angustia que provocará reações imprevisíveis, porem, necessárias ao bem estar espiritual. O apóstolo Paulo passou pela experiência dessa descoberta, e isso provocou nele uma mudança tão significativa que alterou todo o curso de sua existência. Ao final de sua vida foi capaz de seguramente dizer: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. Será que poderíamos encontrar em nossos dias um número considerável de cristãos vivendo essa mesma experiência? Estariam estes em busca de muitos mais que uma religião?


Evanildo Ferreira da Silva.