A vida humana está intimamente relacionada ao tempo. Não dá para pensarmos a existência humana sem antes colocá-la na dimensão temporal, finita, passageira, embora nela esteja inequivocamente a realidade da transcendência. A imagem e semelhança de Deus, parte integrante de cada ser humano, o impulsiona a não somente transpor a barreira da temporalidade, mas também à louca tentativa de viver como se o tempo não existisse, ou como se ele próprio fosse o criador e senhor do tempo.
Se não podemos desvencilhar uma coisa da outra, uma vez que, um e outro, vida e tempo se consomem no decurso da existência, percebemos a vida se consumindo diante do tempo, e o tempo se deixando consumir pela vida. Assim, compete-nos ao menos a tentativa de estabelecer uma co-relação entre essas dimensões e encontrarmos um ponto de sensatez, considerando, sobretudo, as atividades humanas elementos primordiais à dinâmica de construção da existência terrena, sem se apartar, no entanto, da perspectiva eterna inerente à natureza humana.
Nesta perspectiva, percebemos um ser humano que luta contra o tempo, que anseia o não envelhecimento, que rejeita a decadência e a morte a todo o custo, que recusa a realidade do tempo, o qual não pede passagem. Percebemos um ser humano que não quer apenas não envelhecer, mas que também não quer morrer; quer sim, ser eterno, como Deus é eterno. Disse o sábio Salomão: “Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade”. (ECLESIASTES, 12:8). A verdade é que, quer queiramos ou não, a vida passa, o mundo passa, as pessoas passam, crescemos, amadurecemos, envelhecemos... Somente o tempo, o “kairos” divino, não envelhece, uma vez que ocupa a dimensão da transcendência, a dimensão do Eterno.
Mas na relação vida e tempo, há uma parte que nos cabe, e que não nos será tirada: A liberdade. Liberdade de ser, de existir, de sonhar, de conquistar, de progredir, de amar, amar e ser amado. Doce liberdade. Liberdade de viver o presente com intensidade sem se deixar consumir pela decepção de um passado que já não é, nem pela ansiedade de um incerto amanhã. Viver o presente, embora este seja um instante efêmero, vivê-lo como se fosse a própria eternidade, dimensão da plenitude divina, ou, do contrário, deixaremos de viver.
É hora de refletirmos no verdadeiro sentido da vida à luz de um tempo que não volta mais, e de um amanhã que poderá não existir. É hora de aceitarmos que o que passou, passou, e que o que foi não voltará a ser. É hora de repensarmos o nosso presente e começarmos a dar a ele um novo significado, sabedores de que a vida é gratuidade e que Deus sempre é Presente, porque para ele, passado presente e futuro são a mesma coisa. Que Ele seja glorificado a cada momento em que vivermos. E que nesta dinâmica da vida sua presença seja vista em cada um de nós de forma viva, significativa e contagiante.
Evanildo Ferreira da Silva